A vacinação contra o SARS-Cov-2 é recomendada para as gestantes e para as mulheres que pretendam engravidar futuramente, mas as taxas de cobertura em gestantes permanecem inferiores a 25% nos EUA. Dados recentes de uma coorte sugerem que as vacinas de mRNA contra a COVID parecem seguras em termos de desfechos neonatais e infantis, e os dados que vêm surgindo sobre desfechos relativos ao início da gestação são reconfortantes. Enquanto a maioria dos estudos de desfechos relativos ao início da gestação se baseia em dados observacionais que relatam apenas as perdas de gestações clínicas (sem capturar as gestações químicas), os dados de pacientes submetidas a fertilizações in vitro (FIV) estão em uma posição privilegiada para capturar as perdas gestacionais precoces não reconhecidas.
Um estudo retrospectivo de coorte comparou os desfechos em pacientes vacinadas e não vacinadas submetidas a hiperestimulações ovarianas controladas ou a transferências de embriões congelados entre fevereiro e setembro de 2021 em um único serviço acadêmico em Nova York. Os dados foram extraídos dos prontuários. Os protocolos variaram, mas foram típicos dos tratamentos de fertilidade. As pacientes foram consideradas vacinadas se tivessem recebido duas doses da vacina da Pfizer ou da Moderna contra COVID pelo menos 14 dias antes do início dos medicamentos para seus ciclos de FIV. O desfecho primário para a coorte de hiperestimulação ovariana foram as taxas de fertilização; o desfecho primário para a coorte de transferência de embriões foi a taxa de gestações clínicas.
Para as pacientes submetidas a hiperestimulações ovarianas controladas, as taxas de fertilização foram semelhantes entre 222 pacientes vacinadas e 983 não vacinadas, com as taxas de 80,7% e 78,7% respectivamente, p = 0,39. Da mesma forma, a análise ajustada não demonstrou associações significativas para o número de óvulos ou oócitos maduros recuperados ou para a taxa de blastulações. As pacientes vacinadas apresentaram maiores taxas de embriões euploides (48,8%) em relação às pacientes não vacinadas (42,5%), p = 0,02.
Para as pacientes submetidas a transferências de embriões, as taxas de gestações clínicas foram semelhantes entre 214 pacientes vacinadas e 733 pacientes não vacinadas, com taxas de 59,5% (52,7 - 66,3) e 63,7% (60,2 - 67,3) respectivamente, p = 0,27. Não foram observadas diferenças significativas nas taxas de gestações, gestações vigentes ou perdas bioquímicas das gestações. As taxas de perdas clínicas das gestações foram de 18,0% nas pacientes vacinadas e 12,0% nas pacientes não vacinadas, p = 0,08. Em análises ajustadas, não foram encontradas associações significativas entre o status vacinal e as chances de gravidez clínica (razão de chances ajustada [aOR] de 0,79, IC de 95%: 0,54% a 1,16) ou de qualquer um dos desfechos secundários, incluindo a taxa de perdas de gestações clínicas (aOR de 1,02, IC de 95%: 0,51 – 2,06). As análises de sensibilidade utilizando coortes combinadas por propensão demonstraram resultados similarmente não significativos e não encontraram diferenças nos desfechos comparando as vacinas da Pfizer e da Moderna entre si.
Este estudo se soma a um corpo crescente (uma barrigona!) de evidências que demonstram que as vacinas da Pfizer e da Moderna não impactam negativamente o potencial reprodutivo. Um benefício notável deste estudo em particular é que todas as gestações puderam ser acompanhadas, o que permite a capacidade de detectar diferenças nas perdas precoces das gestações que podem não ter sido reconhecidas em outros conjuntos de dados que refletiram principalmente as gestações clínicas. O estudo parece ter tido poder adequado com base nas suposições e cálculos dos pesquisadores, e as múltiplas análises reforçam que não houve associações significativas, não importando o recorte. Estes dados reconfortantes, juntamente com os conhecidos riscos aumentados de morbidade e mortalidade materna e fetal associados à infecção por COVID na gravidez, devem tornar a escolha de se vacinar cada vez mais clara para as pacientes que estiverem grávidas ou considerando uma gravidez.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Katharine DeGeorge, MD, MS, editora adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia. Editado por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts; Dan Randall, MD, editor adjunto da DynaMed; Carina Brown, MD, professora assistente na residência de Medicina da Família da Cone Health; Nicole Jensen, médica de família da WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.