Auditorias e feedbacks para melhorar a prescrição de antibióticos: a pressão dos pares funciona?

MBE em Foco - Volume 9, Issue 6

Referência: JAMA Intern Med. 2023 Mar 1;183(3):213-220

Conclusão prática: A pressão de colegas não é suficiente para reduzir o excesso de prescrições de antibióticos.

Pílula da MBE: Os dados de pedidos podem parecer um presente gratuito para os pesquisadores. Mas, para algumas perguntas, eles recebem aquilo pelo que pagam.

A prescrição inadequada de antibióticos é um problema sério e um tanto quanto sem solução. Há preocupações quanto a efeitos adversos desnecessários nos pacientes, riscos de novas infecções, como por Clostridium ou cândida, e ao aumento da resistência antimicrobiana entre as bactérias. No entanto, apesar das campanhas de conscientização pública e das tentativas de educar os médicos, os antibióticos são comumente prescritos sem indicações clínicas, particularmente para doenças respiratórias agudas. Um método proposto é fornecer aos médicos dados de comparação de seus perfis de prescrição com os de seus pares, na tentativa de influenciar os prescritores a serem mais seletivos no uso dos antibióticos. Houve alguns exemplos de que isso possa causar algum impacto, mas a generalização desses achados permanece questionável.

Em um grande ensaio recente realizado na Suíça, 3.426 médicos de atenção primária registrados em 3 bancos de dados de seguradoras de saúde que cobrem 50% dos residentes com taxas de prescrição de antibióticos de médias a altas foram randomizados para uma auditoria trimestral com comparação com os pares ou nenhuma intervenção. Em seguida eles foram acompanhados por 2 anos, tendo como desfecho primário a prescrição de antibióticos no 2º ano do programa. No grupo de intervenção, 8,2 antibióticos foram prescritos para cada 100 consultas, em comparação com 8,4 prescrições/100 consultas no grupo de controle, uma diferença não significativa. Além disso, a prescrição de antibióticos em geral aumentou 4,2% em ambos os grupos.

Este estudo teve duas limitações principais. As solicitações de medicamentos na Suíça não vinculam as prescrições de antibióticos a um diagnóstico, por isso é difícil saber quantas das prescrições foram realmente necessárias. Também não sabemos se os prescritores sequer leram os relatórios das auditorias. No entanto, esses dados sugerem que os médicos não são tão influenciados pela opinião dos colegas quanto os proponentes dessa abordagem poderiam esperar. Talvez o que precisamos seja mais educação sobre as opções alternativas à prescrição imediata de antibióticos, como o uso de prescrições proteladas, as quais demonstraram reduzir drasticamente o uso inadequado de antibióticos. Pode ser, no entanto, que a fim de se alcançarem as metas de racionalidade antimicrobiana, precisemos de sistemas de saúde que permitam aos prestadores mais que 10 a 20 minutos por paciente, para que haja tempo para uma educação significativa dos pacientes sobre o uso adequado dos antibióticos, bem como outras mensagens importantes sobre como se manter saudável.

Para mais informações consulte o tópico Racionalidade antimicrobiana na DynaMed.

Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed

Este MBE em Foco foi escrito por Alan Ehrlich, MD, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts. Editado por Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora-adjunta da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Dan Randall, MD, editor-adjunto da DynaMed; Nicole Jensen, MD, médica de família na WholeHealth Medical; Vincent Lemaitre, PhD, autor médico sênior na DynaMed; e Sarah Hill, MSc, editora associada da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, professor do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.