Conclusão prática: O uso universal da terapia com pressão negativa para feridas cirúrgicas ainda não está exatamente pronto para estrear.
Pérola da MBE: O cuidado informado por evidências baseia-se em três pilares: experiência do médico, aplicação das melhores pesquisas disponíveis, e valores e preferências do paciente.
"Se você ganha algo de graça na internet, pode ser que o produto seja você."
Os aplicativos de IA podem pesquisar a literatura médica e destacar de maneira sistemática certos tipos de evidências, como estudos com resultados positivos ao invés daqueles com resultados negativos.
Por exemplo: a cicatrização das feridas cirúrgicas grandes pode ser um processo trabalhoso e, embora os dispositivos de pressão negativa possam ser dolorosos e caros de aplicar, se ajudarem a cicatrizar feridas eles podem valer a pena. Uma meta-análise de mais de 3.000 pacientes publicada em 2023 no International Wound Journal (IWJ) sugeriu que esses dispositivos ajudam na cicatrização de rotina das grandes feridas cirúrgicas. Infelizmente, esse artigo foi retratado (em março de 2025, 15 meses depois) devido a preocupações sobre comprometimento do processo de revisão por pares. No mês passado, um estudo muito menor realizado por outro grupo de pesquisadores publicado no The Lancet demonstrou que os dispositivos de pressão negativa não foram associados a um menor tempo de cicatrização por segunda intenção das feridas cirúrgicas. Se um mecanismo de busca com IA for tendencioso para os estudos maiores ou que mostram um efeito positivo, ou não excluir aqueles que tiverem sido objeto de retratação, a meta-análise do IWJ nos levaria a recomendar a terapia com pressão negativa como rotina para as grandes feridas pós-operatórias, principalmente se o mecanismo de IA não identificar e excluir os artigos retratados.
É fácil produzir uma resposta elegante com um mecanismo de pesquisa online; é mais difícil produzir uma que seja confiável. Por exemplo, as instruções dadas aos grandes modelos de linguagem podem priorizar os estudos mais recentes e aqueles com resultados positivos. No caso acima, alguns algoritmos de pesquisa podem priorizar essa meta-análise do IWJ, maior mas retratada, em relação ao artigo indiscutivelmente mais preciso do Lancet. Além disso, nem todas as ferramentas de IA têm políticas transparentes sobre conflito de interesses, algo que é padrão para qualquer revista médica confiável. Se você estiver usando um mecanismo de IA gratuito para responder às suas perguntas médicas e não houver transparência sobre como o mecanismo chega à resposta, pergunte-se quem poderia estar se beneficiando das respostas que você está obtendo.
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, MPH, FACP, editor adjunto sênior da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, FAAFP, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Gayle Sulik, PhD, editora médica sênior e líder da equipe de cuidados paliativos da DynaMed; McKenzie Ferguson, PharmD, BCPS, redatora médica sênior da DynaMed; Rich Lamkin, MPH, MPAS, PA-C, redator médico da DynaMed; Matthew Lavoie, BA, revisor médico sênior da DynaMed; Hannah Ekeh, MA, editora associada sênior II da DynaMed; e Jennifer Wallace, BA, editora associada sênior da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.