Conclusão prática: O uso da colonoscopia por cápsula para rastreamento ainda não está exatamente pronto para estrear.
Pérola da MBE: O cuidado informado por evidências baseia-se em três pilares: experiência do médico, aplicação das melhores pesquisas disponíveis, e valores e preferências do paciente.
"Não seja o primeiro a usar um novo medicamento, nem o último a deixar um antigo de lado."
Em outras palavras, sempre olhe antes de pular de cabeça na última onda. O artigo a seguir é sobre um novo dispositivo desenvolvido há alguns anos, mas ilustra como qualquer avanço na medicina pode parecer um grande passo à frente à primeira vista, mas não podemos contar com isso até fazermos uma dupla checagem.
Os gastroenterologistas foram informados há alguns anos de que em breve realizariam muito menos colonoscopias de rastreamento, já que os pacientes agora poderiam engolir uma cápsula inteligente e obter os mesmos resultados. Um estudo dinamarquês publicado na Gut em abril avaliou 1.790 pacientes que com um teste imunoquímico fecal (FIT) positivo que foram randomizados para terem a opção de receber uma cápsula endoscópica do cólon (com uma colonoscopia de acompanhamento, se positiva) ou irem diretamente para a colonoscopia. Levantou-se a hipótese de que muitos pacientes evitariam a colonoscopia. No entanto, a maioria dos pacientes que optaram pela cápsula endoscópica necessitou de uma colonoscopia de acompanhamento e, no geral, não houve vantagem em relação à descoberta de casos ou na adesão geral à opção da cápsula, pelo menos para essa população. Dado que a cápsula endoscópica requer uma preparação de limpeza mais rigorosa que a colonoscopia padrão, você gostaria de gastar tempo e/ou dinheiro em uma opção de alta tecnologia quando provavelmente acabará fazendo as coisas “do jeito antigo" de qualquer maneira?
Neste caso, um gadget novo e promissor foi inicialmente amplamente previsto para impactar a prática clínica. No entanto, como este estudo randomizado ilustra, a verdade da vida real às vezes pode nos dar um resultado muito diferente. Ironicamente, a colonoscopia por cápsula interpretada por IA está sendo pesquisada e pode gerar resultados diferentes desse. Quando forem publicados estudos sobre esse avanço tecnológico, falaremos sobre eles então! Enquanto isso, quando ajudamos nossos pacientes a fazerem escolhas informadas sobre suas opções de diagnóstico e tratamento, não devemos presumir automaticamente que o mais novo é melhor até que haja evidências baseadas em desfechos para fazermos essa dupla checagem.
Esperamos que você tenha gostado da nossa minissérie em três partes! Lembre-se: atenha-se ao básico do seu ofício e confie em seu raciocínio clínico, acompanhe a literatura, mas não entre de cabeça em cada novidade que surgir e sempre pergunte a seus pacientes o que é mais importante para eles. Para que você não pense que somos anti-tecnologia, veementemente não somos. Se há um aforismo que resume nossas crenças em relação a novos medicamentos/procedimentos/tecnologias promissores, é o lema do grande estado do Missouri: Mostre-me!
Equipe editorial do MBE em Foco da DynaMed
Este MBE em Foco foi escrito por Dan Randall, MD, MPH, FACP, editor adjunto sênior da DynaMed. Editado por Alan Ehrlich, MD, FAAFP, editor executivo da DynaMed e professor associado de Medicina de Família na faculdade de medicina da Universidade de Massachusetts; Katharine DeGeorge, MD, MSc, editora adjunta sênior da DynaMed e professora associada de Medicina de Família na Universidade da Virgínia; Gayle Sulik, PhD, editora médica sênior e líder da equipe de cuidados paliativos da DynaMed; McKenzie Ferguson, PharmD, BCPS, redatora médica sênior da DynaMed; Rich Lamkin, MPH, MPAS, PA-C, redator médico da DynaMed; Matthew Lavoie, BA, revisor médico sênior da DynaMed; Hannah Ekeh, MA, editora associada sênior II da DynaMed; e Jennifer Wallace, BA, editora associada sênior da DynaMed. Traduzido para o português por Cauê Monaco, MD, MSc, docente do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo.